Decide parar por uns momentos num local escondido onde ve a cidade, apenas até conseguir que as lágrimas quentes que se misturam com chuva parem de escorrer pelo seu rosto. Finalmente consegue olhar o céu a limpar-se e mais uma vez deseja as estrelas «Volta para mim...».
Ouve passos apressados atrás de si, levanta-se e volta-se sobressaltado antes de ser derrubado por um dos seus assaltantes. Ainda atordoado nao resiste ao assalto. No entanto tem algo que uma pessoa importante lhe ofereceu num momento de felicidade, a única pessoa que amou ou algum dia irá amar, algo sem valor que nao sentimental. Agarra um braço que tenta arrancar-lhe o pendente com um coraçao negro, mas deixa de resistir ao sentir uma dor forte acima do estômago...
O metal frio tinha atravessado a pele e rasgado as suas vísceras. O calor do sangue faz-se sentir na camisola fria e molhada. Respirar torna-se difícil, tudo está calmo. Apenas uma silhueta negra está estendida no chao, caída.
Calmo, tenta voltar-se enquanto tenta respirar. Ouve o comboio ao longe sabendo que nao está a mais de 3 metros de si, ve agora a Lua por entre as nuvens já a desvanecerem-se. Sorri ao verificar que ainda tem o pendente na sua mao esquerda e agarra-o com força enquanto deixa de ver estrelas, de ouvir o comboio, de sentir o frio do chao enlameado ou as dores.
Tudo termina assim, num dia como tantos outros em que daria tudo por um sorriso, por um café e uma conversa banal com a pessoa que ama. Gostaria de ver a cara dela em vez das estrelas, de a ouvir sussurrar em vez do vento, de sentir os seus braços em vez do frio, de nao lhe doer tanto deixá-la agora, sabendo o que irá sofrer. E é ao pensar nela que vai tentando respirar por entre as golfadas de ar e sangue, na esperança de a ver e ouvir que tudo está bem e que voltará para casa, que a vida se esvai lentamente. No seu ultimo momento de vida, antes de perder a consciencia, chora, sem sequer notar, e o seu ultimo expirar sussurra mais alto que qualquer grito “AMO-TE”.
Texto escrito por Fernando Vargas
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