terça-feira, dezembro 28

Sobrevivencia segundo termos próprios

"Quando me deito, uma luminescencia cinzenta começa a levantar-se de mim.

(...)

Se adicionarmos a coragem que nao tenho 'a tua,
Será facil, fácil até demais,
Falarmos um pela voz do outro,
Tomarmos um corpo,
Com o corpo do outro,
Passarmo-nos um pelo outro,
Pois juntos, com outros tantos e os mais que virao,
Conseguimos, em multidao, ser uma pessoa minima,
De mínimos recursos, digna, porque falhada,
No tentar e no conseguir.

(...)

Observemos, 'a força vermelha de olhar,
Absorvendo, engasgados, o instante.
(...)
E a nossa multidao nao chega a ser um.

(...)
Também nós, os inimigos jurados do horror de esquecer,
Teremos que recuperar,
Para estrategicamente, preparar,
O que aí vem
E também tudo o que nao virá,
A fim de nao sermos agora,
Capturados na descida,
Surpreendidos, sem retorno,
Pela nossa obra-prima,
Pela força da sonífera corrente
Que nos esmaga os ossos da mao
Em tempos de registo,
Em detalhe de afliçao
Procuremos ir 'a volta
E atacar sempre por trás.
Viver protegidos,
De costas viradas, encostadas,
A laminas e paredes.
Encostados, sempre avisados,
Alerta!

Porque somos cada vez menos,
Aqueles que sobrevivem usando os seus próprios termos."

by Fernando Ribeiro in Feridas Essenciais

Nesta entrada decidi nao postar o poema completo pelo simples facto de que é um pouco grande demais. Tentei selecionar algumas partes, fazendo o meu melhor para nao lhe retirar nem modificar o sentido. Mas o que realmente queria eram mesmo os dois ultimos versos, mas se divulgasse apenas essa parte limitaria o seu alcance.

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