sexta-feira, dezembro 8

"E agora? O que faço? Para onde vou? Agora o que sou? Que faz isto de mim?
Agora, frente ao final da noite insonica, de actividade e depressao redentiva, que amanheço. Agora que amanheço em frente a este espelho de reflexos negros, que será de mim? Nao capaz de suportar o dia, de ter a forma de morte sobrepor-se 'a forma de vida. Nao sendo capaz de viver a vida e a morte, a paixao e o raciocinio ao mesmo tempo.
Perco a consciencia do que faço, cansado, exausto, de rastos, amando a todos os momentos... a exaustao da mente pelo coraçao. O final do corpo, o limite de tudo pelos exageros e abusos que lhe conferimos, pelas agressoes que abraçam a alma e pelas outras que a mal-tratam.
No final de tudo isto, tento dormir, entao deito-me na minha cama-caixao, olhando o negro. Está escuro aqui, quase nao consigo ver. A musica que me grita aos ouvidos soa como suspiros do meu coraçao. Os incensos nao me permitem cheirar nada mais. Dentro deste caixao-cama, nada posso sentir que esteja tao perto assim. Todos os meus sentidos estao fechados para o mundo. Resta-me o instinto e o que a alma me ditar, pois o encefalo está já demasiado cansado e desliga-se automaticamente.
Agora, entre as sombras que me reconfortam, vejo tudo o que desperdicei, os dias felizes, as noites sem dormir, escolhas, vivencias, momentos perdidos, sonhos quebrados... Aqui sinto-me sem forças para enfrentar seja o que for. Aqui sinto-me sem aliados para me proteger no meu pesadelo. Entre as sombras encolho-me, com o coraçao a saltar, um nó no estomago, de olhos cegos esbugalhados para o breu, com atençao a sons que apenas sao meus, a respirar aos soluços... a tremer de medo. Socorro! Tenho tanto medo desse anjo, dessa fada, dessa senhora de branco! Tanto medo do calor, do afecto, da paixao, da beleza, da aceitaçao! E como posso eu enfrenta-los? Eles sao ente supremos, vivem dentro de mim! Nao poderia nunca derrotar-me.
E abraço-me ao monstro do armario, ao monstro que vive debaixo da minha cama e que sempre anda colado 'as minhas costas quando apago a luz e me dirijo a qualquer lado 'as apalpadelas. Aqui tenho o meu conforto, que me descansa. Agora tento dormir, entre o imenso pelo oleoso e a pele aspera do quente monstro verde do armario. Esse monstro que nao é mais do que apenas um "eu" que nao sou.
Que haveria mais de temer deles? Onde mais poderei eu estar quando me faço um monstro maior que qualquer deles? Que haveria mais a temer? Porque nao posso eu viver na imaginaçao de todos, enquanto um estupido medo? Pois agora tenho de viver entre os hOMENS... e nao posso ficar onde nao pertenço...

E agora? O que faço? Para onde vou? Agora o que sou? Que faz isto de mim?"

by Fernando Vargas

"Victims, aren't we all?" - disse Brandon Lee no filme "O Corvo". Mas monstros, nao somos todos?
Um pequeno texto que pode ser aqui publicado, pois os que tenho vindo a ter em maos tem sido catalogados como demaisado pessoais para poderem ser despidos, lidos e dissecados.

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