domingo, julho 17

Os Passos Em Volta

Decidi que por agora (enquanto estou mais desocupado) me didicaria a ler um pouco do que normalmente nao tenho oportunidade. Desta vez um livro de Herberto Helder que me foi oferecido pela «Joaninha» chamado "Os Passos Em Volta". Mais uma vez, tenho de dar a conhece-lo neste espaço.
Este livro, que nao é muito grande, é organizado em pequenos textos de poucas (mais ou menos entre 8-2) paginas. Estes textos contam historias repletas de visoes e reflexoes, durante a vivencia do autor, assim como tambem alguma da sua filosofia. Filosofia de um poeta escrita em prosa... que pode resistir a le-lo? Nem por um pouco apenas...? Bem, o primeiro texto, de nome "Estilo", é realmente promissor e o livro torna-se bastante viciante.
Mais nao direi para nao estragar a surpresa. Embora o texto que ja referenciei se tornasse o que mais gostei ate ao presente momento de leitura (pagina 68 de 194, tendo ainda que fazer algumas analepses), vou dar a conhecer um outro excerto. Isto deve-se apenas ao tamanho do texto, assim sendo, o que aqui divulgo apresenta-se duma menor dimensao e mais facil compreensao. Tal como penso que deve ser uma divulgaçao via internet, na qual, na maior parte das vezes, tudo é lido na diagonal.
Mas, meus caros visitantes e leitores, desenganem-se! Se querem realmente perceber este livro acredito seriamente que vao precisar de le-lo devagar, pensando e vivendo o que se descreve (que se torna bastante facil). Talvez seja necessario a alguns de voces ler alguns textos mais do que uma vez (eu sei que, a mim, foi!) para os perceber melhor. Mas nao poderia ser doutra forma, uma vez ter sido escrito por um poeta, ainda para mais lusitano!

Teoria Das Cores

"Era uma vez um pintor que tinha um peixe vermelho. Vivia o peixe tranquilamente acompanhado pela sua cor vermelha ate que principiou a tornar-se negro a partir de dentro, um nó preto atras da cor encarnada. O nó desenvolvia-se alastrando e tormando conta de todo o peixe. Por fora do aquario o pintor assitia surpreendido ao aparecimento do novo peixe.
O problema do artista era que, obrigado a interromper o quadro onde estava a chegar o vermelho do peixe, nao sabia o que fazer da cor preta que ele agora lhe ensinava. Os elementos do problema constituiam-se na observaçao dos factos e punham-se por esta ordem: peixe, vermelho, pintor - sendo o vermelho entre o peixe e o quadro atraves do pintor. O preto formava a insidia do real e abria um abismo na primitiva fidelidade do pintor.
Ao meditar sobre as razoes da mudança exactamente quando assentava na sua fidelidade, o pintor supos que o peixe, efectuando um numero de magica, mostrava que existia apenas uma lei abrangendo tanto o mundo das coisas como o da imaginaçao. Era a lei da metamorfose.
Compreendida esta especie de fidelidade, o artista pintou um peixe amarelo."

by Herberto Helder

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