quinta-feira, julho 14

Viagem de comboio

"(...) Pouso o livro, fecho-o. Tinha vontade de o ler todo, principalmente de le-lo rapido para voltar a recomeçar um outro. Para ler tantos quantos existissem. Olho pelo vidro gorduroso do comboio. Sorrio ao ver o mar tao sereno, só lamento nao poder ouvi-lo e sentir os salpicos de cada rebentar das ondas ruidosas nas rochas. Apenas olho. Cada monte como um sobressalto rapido de correria a atrapalhar a visao serena do mar. O cheiro a tabaco provoca nauseas quando conjugado com alguma velocidade imprimida 'as coisas que a visao nao pode evitar tentar focar.
Quem me dera voar. Fecho os olhos. Fecho-me e mim. Liberto-me do meu corpo. Esqueço onde estou. Saio. Tento ver-me voar lá fora, ? velocidade que agora vou, onde cheiro o sal da agua, vejo os peixes la no fundo. Voo com as gaivotas no meu momento de liberdade. Posso mergulhar, mas nao já... Sei que todas aguias gaivotas e muitos outros me olharao como a um louco por voar tao rapido, tao perto da agua, tao esquecido do mundo que existe para alem disto, e depois mergulhar! (...) Todos estranham a minha atitude. Porque o fiz? Porque quis. Porque posso. Porque sou livre de tudo, incluindo de mim proprio, ara realiza-lo. Sou livre daquilo que nao sou capaz e do desleixo de ansiar pelo descanso tedioso dum sofá. E só assim posso voar. Só assim voo com o vento sem me importar.
"Chegamos 'a estaçao de..." uma voz anasalada e estridente acorda-me do transe em que me encontrava. Deixo muito para trás, mas nao por muito tempo. Embora agora isso pareça uma eternidade... é sempre muito tempo sem ver o horizonte. Estou fechado em mim há demasiado tempo. Nao preciso mais de alguem que me liberte, mas gostaria de encontrar alguem que se importasse (...)"

Um excerto duma carta de Fernando Vargas a alguém que nunca a irá ler. Acho que o excerto foi um pouco grande demais, mas já nao sabia mais que tirar!
O titulo é da minha autoria.

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